domingo, 1 de março de 2009

Indieferença



Se eu ainda fosse adolescente ou estivesse nos meus vinte e poucos anos (estou nos vinte e muitos), gostaria de ter o estilo indie. Observação: não é que alguém fora dessas faixas etárias não possa ser assim, mas acho que cabe melhor nessas épocas da vida, com o candente desejo de afirmação por meio de símbolos de originalidade, e tal.

Os indies passam a impressão de serem tão cool, donos do próprio nariz... Evidente – a origem da palavra vem do inglês independent.

Se estou batendo perna por aí e vejo vindo, no começo da calçada, alguém trajando aquele indefectível par de Converse All Star e ajeitando os óculos com armação de acrílico preto, começo a imaginar em que lugar legal ele estava, para qual está indo, o que vai fazer naquela noite, que CD’s têm na sua estante, em que apartamento interessante mora... Fico divagando se trabalha com webdesign (profissão “da hora”), se toca numa banda (de rock, claro), se tem um zilhão de amigos tão hype quanto ele... Se é mulher, onde cortou a franjinha à la Cat Power... Ai, deixa eu parar por aqui, porque não conheço bem os códigos e posso acabar falando besteira.

Bom, de imediato, é assim que eu gostaria de ser. Mas então minha máquina de pensar começa a trabalhar e me faz aceitar que, debaixo daquele agasalho Adidas, tem alguém tão mortal quanto eu, você e todos nós. Alguém que tem ciúmes da(o) namorada(o). Que acorda com mau hálito. Que ri do próprio tombo. Que malha a revista Veja, mas na primeira oportunidade que tem, dá uma lidinha.

E mais (tomara que seja raro): pode até ser um babaca. Dias atrás eu estava no supermercado, na seção de azeites, e presenciei uma cena capaz de deixar qualquer azeitona amarela de vergonha ou vermelha de raiva. Um senhor idoso não se decidia entre qual frasco colocar no carrinho. E não percebeu que tinha mais gente querendo chegar perto da gôndola. Um trivial “com licença” resolveria a questão. Mas eis que um moçoilo, indie da ponta do cadarço à ponta do cachinho, começou a esbravejar, dizer que estava com pressa, e outras coisas que prefiro não relatar. Fiquei abismada, mas foi útil para perceber que meu deslumbramento em relação aos indies não tem razão de ser. Sometimes the clothes do not make the man.

Fora isso, continuo adorando indie-rock, acho uma gracinha o All Star com paetês... E vou contratar um segurança tipo Maçaranduba, pois no fim do mês assistirei ao show de um tal Radiohead, cuja platéia deverá ter a maior concentração de indies por metro quadrado no Brasil. Estou com medo de que algum leia esse post, leve-o a mal e queira acertar as contas pessoalmente...

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